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AS LIÇÕES DE VILLARES

AS LIÇÕES DE VILLARES

 

AS LIÇÕES DE VILLARES, O CONSELHEIRO

 

Ex-industrial troca produção por palestras sobre ética corporativa Por Dárcio Oliveira A sala está repleta de troféus e homenagens. Uma estatueta de 1984 anuncia o Empresário do Ano, título que ele manteve pelas duas temporadas seguintes. Ao lado, duas placas, uma da IBM e outra do Chase Manhattan. Ambas agradecem as valiosas contribuições do empresário nos dez anos em que ele se sentou à mesa de seus Conselhos. Paulo Diederichsen Villares, 66 anos, ex-capitão do Grupo Villares, exibe com orgulho todos os prêmios. O passado lhe traz algumas boas recordações, outras nem tanto. Uma boa: ele foi o homem que, 30 anos atrás, deu o primeiro emprego a Luiz Inácio da Silva, então um torneiro mecânico que dava expediente na Equipamentos Villares. Um dia, após a greve de 1972, o líder sindical procurou o patrão e perguntou: “Doutor Paulo, por que é tão importante exportar?”. Villares sorriu e lhe aplicou um curso sobre balança comercial. O ex-chefe de Lula lembra feliz o episódio: “Fui o primeiro professor de economia daquele que pode ser o presidente”. O homem que aconselhava empresários e presidentes, hoje, continua ensinando. Não há mais as Indústrias Villares, pelo menos aquela Villares de Paulo, que no auge das atividades chegou a ter 15 empresas, 23 mil funcionários e receitas de US$ 1 bilhão. Com as crises, as empresas que compunham o conglomerado ou foram desativadas ou vendidas. Paulo, atualmente, divide seu tempo entre palestras e cursos que ministra no Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, as reuniões mensais do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, os encontros anuais do World Economic Forum e do Conselho de Empresários da América Latina e a condução diária da CoInvest, empresa criada para gerir o patrimônio da família. Não gosta muito de falar sobre a CoInvest (talvez porque seja o símbolo maior de um passado que poderia ter sido diferente), mas é capaz de ficar horas discorrendo sobre a situação econômica do País ou sobre a fórmula ideal para uma administração transparente nas empresas. O professor Villares faz duas palestras semanais sobre o tema e também desenvolveu um curso para conselheiros independentes. E não o faz apenas pela oportunidade aberta pelas presepadas contábeis dos executivos americanos. O hoje ex-industrial se diz especialista em ética corporativa há décadas. Um exemplo: na Villares, havia uma regra pela qual os acionistas que participassem da administração do grupo só poderiam comprar ou vender ações em períodos aprovados pelo conselho. A medida evitava, por exemplo, que às vésperas de um grande projeto – informação que os conselheiros tinham em primeira mão –, os papéis fossem negociados. Nos anos 70, quando a ordem nas corporações era a centralização, nova prova de modernidade. O então presidente da Villares desenvolveu um sistema de administração em que diretores e gerentes participavam ativamente das decisões. “Doutor Paulo reunia durante uma semana 150 gerentes e diretores para fazermos o planejamento para as companhias”, conta o consultor Américo Bertolini Júnior, que foi durante 28 anos gerente de RH do Grupo Villares. Tais fundamentos, Paulo Villares trazia de suas experiências no exterior. O empresário freqüentou durante anos as reuniões mundiais de companhias como Avon, Caterpillar e Alcoa. Foi conselheiro de mais de 40 empresas. E mesmo com toda essa bagagem o capitão da Villares não conseguiu evitar o naufrágio do grupo. A empresa começou a definhar nos anos 70, depois que entrou no projeto Brasil Grande, do presidente Ernesto Geisel. O governo incentivou o grupo a crescer com a promessa de crédito subsidiado e encomendas gigantescas. Villares comprou a promessa e investiu US$ 600 milhões em novas fábricas. Quando estava tudo pronto, o governo ficou sem caixa. Começava ali a agonia do grupo e uma sucessão de crises e dívidas. Antes disso, o poder dos Villares só era comparável ao dos Ermírio de Moraes. Eles tinham passe livre em Brasília e portas abertas nos bancos. O pai de Paulo, Luiz Dumont Villares, era considerado um dos expoentes da indústria nacional. Paulo herdou-lhe o talento e o prestígio, até que vieram as turbulências. “A perda do poder lhe doeu tanto quanto a venda das empresas”, conta um empresário que conviveu durante anos com os Villares. Hoje, o professor Paulo bem que poderia incluir mais um ensinamento em suas aulas: a de duvidar dos conselhos de governantes.

 

Fonte: https://www.istoedinheiro.com.br/noticias/13224_AS+LICOES+DE+VILLARES+O+CONSELHEIRO